São muitos os benfiquistas que se queixam da ausência de jogadores portugueses do plantel. Pessoalmente sou a favor da qualidade não importando a nacionalidade, mas é verdade que as coisas podiam ser feitas de uma outra forma com vista a rentabilizar alguns bons jogadores que vão surgindo dentro de portas. Existe um certo preconceito dentro do clube na aposta de jovens valores nacionais, mas também existe alguma falta de qualidade no produto interno. Estas coisas estão ambas interligadas e para se discutir isto, temos que ir ao fundo da questão. Onde começa o problema? Difícil dizer mas podemos enumerar algumas causas.
Falemos então da formação. A formação em Portugal é mal gerida, mal preparada, mal pensada. Não existe na esmagadora maioria dos clubes um plano desde a base até à equipa principal, onde possam ser enquadrados os futuros talentos de forma gradual e com critério. É tudo feito em cima do joelho, os jogadores são muitas vezes mal trabalhados, não existe uma metodologia de treino específica que permita desenvolver de forma correcta o potencial de cada jogador. Há que lembrar também que o acompanhamento de um jovem vai além do seu valor futebolístico. É preciso também incutir-lhe valores humanos, que muitas vezes são subestimados. Depois há outro problema que é o nível competitivo. Os nossos campeonatos de formação são fracos, sem grande competitividade, sendo dessa forma natural que a passagem para o futebol sénior seja muito difícil e se revele demasiado problemática.
Indo de encontro à realidade do Benfica, o clube tem as infra-estruturas necessárias para moldar o que de bom vai surgindo. Falta no entanto o tal plano uniformizado que permita aos jogadores crescerem com um modelo de jogo e dessa forma possam assimilar desde a base os princípios da equipa. No fundo falta uma filosofia de jogo. A equipa B é uma boa ajuda para enquadrar os jovens jogadores, para dar-lhes ritmo de competição, fazer com que possam habituar-se ao futebol de alto nível. A equipa B tem que servir sobretudo para descobrir bons jogadores para a equipa principal, não para servir de entreposto a um sem número de jogadores estrangeiros que na maior parte das vezes têm qualidade semelhante ao que produzimos no Seixal. Atenção não sou contra a incorporação de jovens talentos de outros países, sou contra isso sim, a falta de critério que é patente na aquisição desses mesmos talentos. De outra forma, o problema continuará a existir.
Por fim a aposta. Quando o produto final está quase a ser concluído e se existir qualidade nesse produto, o único erro é não se apostar nessa qualidade. E isso é vigente no Benfica. Não têm sido muitos os grandes jogadores que têm saído da formação, mas também é necessário dizer, que as oportunidades escasseiam o que torna tudo mais difícil. Mais, deita por terra o trabalho realizado no desenvolvimento de cada jogador, deita por terra o que foi investido em cada um deles. É fundamental haver uma inversão de mentalidade neste aspecto, não ter medo de lançar bons jogadores vindos da formação em detrimento de um qualquer estrangeiro que possa estar na ribalta. Se o nível for semelhante, a escolha é óbvia, ou pelo menos devia ser. Não basta dizer que vamos investir na formação. É preciso colocar isso em práctica. Estou para ver quando isso vai acontecer...
5 comentários:
Sou cada vez mais um fã dos teus comentários, bem construidos e sempre muito perspicazes!
Obrigado pela parte que me toca. Este é um espaço que pretende discutir o Benfica. Problematizá-lo.
Ehlá, agora temos dois "Migueis Silvas"? ;)
Eu sou o m.silva do norte
Ah, OK! Eu sou o M. Silva do Sul que trabalha no Norte ;)
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